quarta-feira, 21 de março de 2012

Crise Académica de 62 - Comemoração do Cinquentenário





Em 1961, como era hábito, as comemorações do 25 de Novembro reuniram em Coimbra estudantes de todo o País. Mais de duzentos participaram num jantar, durante o qual a frase "Queremos paz!" ecoou em protesto contra a Guerra Colonial, inspirando um animado cortejo pela cidade.
A polícia apareceu e vários estudantes foram presos, o que suscitou uma vaga de apoio e indignação em todo o país. A tensão era visível nas academias do Porto e de Lisboa e marcou a inauguração da nova Reitoria na Cidade Universitária.

Foi neste clima que em 1962 se realizaram vários encontros de dirigentes associativos que deram origem a um Secretariado Nacional de Estudantes Portugueses e à realização, em Coimbra, do primeiro Encontro Nacional de Estudantes, ignorando a proibição que o Governo tinha decretado. Essa rebeldia foi paga pelos membros da direcção da Associação Académica, com a instauração de processos disciplinares e a sua suspensão. Os estudantes de Coimbra responderam com o luto académico e a greve às aulas.


Em Lisboa, as associações de estudantes pretendiam comemorar o Dia do Estudante no final de Março. E, mesmo sem autorização do Ministério da Educação Nacional, as comemorações iniciaram-se a 24 de Março de 1962.
O regime respondeu com a sua brutalidade habitual, a cantina foi encerrada e a Cidade Universitária invadida pela polícia de choque, ignorando a autonomia universitária.


Estudantes foram espancados e presos, desencadeando uma reacção de repúdio que levou a que fosse decretado o luto académico e a greve às aulas, tal como acontecera em Coimbra.
Marcelo Caetano era, na época, Reitor da Universidade de Lisboa e mediou uma solução para o problema. Os estudantes voltavam às aulas, mas realizar-se-ia um segundo Dia do Estudante nos dias 7 e 8 de Abril. Assim fizeram os estudantes mas, chegada essa data, o Ministério voltou a proibir as comemorações. O Reitor, Marcelo Caetano, sentiu-se desautorizado e demitiu-se. O luto académico foi reposto e os estudantes desceram do Campo Grande ao Ministério (então no Campo Mártires da Pátria) ao som do grito "Autonomia!".


Olhando a esta distância e não tendo presenciado estes acontecimentos, parece desenhar-se uma sombra de ironia sobre estes acontecimentos por ter sido a tentativa autoritária do Governo de controlar as associações que ajudou a que os estudantes se unissem e empreendessem uma luta pela preservação das suas associações, como um espaço de genuína democracia.
De tudo isto ficou a memória e a data: 24 de Março, escolhida pela Assembleia da República quando em 1987 fixou o Dia do Estudante.

Para saberes mais vai a:
http://www.crise62.net/

Nota: Estas informações foram recolhidas no Jornal i de dia 20 de Março 2012 e no jornal da Universidade de Évora.